👉🏽 A tradução do texto a seguir encontra-se disponibilizada aqui .
There is one poem by Wislawa Szymborska that has sneaked into Polish popular music. This happened without the poet's intention and the work I have in mind here is the poem Nothing twice (PL: nic dwa razy), first published in the volume of her poetry "Calling Out to Yeti” (pl: Wołanie do Yeti, 1957). In the 1960s, Łucja Prus changed the poem into a song. Thirty years later, the rock legendary band Maanam from Cracow (PL) bestowed it with punk rock sounds. Although another Polish artist, Sanah, has recently reached for the song again, it is Maanam's version that is the closest to me. Reading the track, I hear the voice of the band's vocalist Kora, singing: “Nothing can ever happen twice. / In consequence, the sorry fact is / hat we arrive here improvised / and leave without the chance to practice”.
In the documentary film about Wislawa Szymborska, Life Is Bearable. At Times [1] (pl: Chwilami życie bywa znośne, 2010, by Katarzyna Kolenda-Zaleska), Lawrance Welsch shares his observation that even if you don't know the Polish Nobel Prize winner's poetry, but read even one of her poems, she will immediately become your favorite poet. Here, I must add that even if you don't know Szymborska's poems and aren't even interested in poetry, once you hear or read a fragment of a poem, a cut-out verse will sink into your memory. Why? Perhaps it has something to do with what the previously mentioned Lawrance Welsch says: “so poets who have to hit you hard to make you see the stars, here a touch is enough to experience enlightenment. She has a gift for describing deep and serious things in a very gentle way”.
In Szymborska's poems, humor is intertwined with melancholy. The reverie on life, its accidents, awesomeness and beauty, occur together with death, passing. Tedeusz Nyczyk, a Polish literary critic, sees her poetry as a support in dealing with the difficulties of life. She is the support we grasp to keep from going crazy. However, he also points out that Szymborska's work shows how to explore the world in order to fall in love with it. Because Szymborska finds beauty also in small things, almost unnoticeable, but accompanying us every day. “Thanks to Szymborska, I see the world through different eyes because she described the world in such a way that I cannot look at it as before”, says Clare Cavanah, mentioning the poet's poem about buttons, through which she sees even buttons differently".
Szymborska herself did not like to talk about herself and her poetry. She believed that an author should express herself only in her work. However, she addressed her work to her readers. She was even said to have indicated that she would like the reader to accept it as their own, written for them. “Because the poem belongs to you, who are reading this, and to you I dedicate it”, she said. And here we can return to the text of song Nothing twice. Szymborska herself had nothing against the use of her poetry in music. However, she wanted to encourage others to find time to reach for a book before hearing a text already interpreted by anothers. Because this self-image on first reading is perhaps even bizarre or naive, but it is something amazing − it is your own irreplaceable experience.
With these thoughts, I reread Szymborska's poem years later and discover new spaces behind her words in the ordinary and the unordinary things: “With smiles and kisses, we prefer / to seek accord beneath our star, / although we’re different (we concur) / just as two drops of water are” [2].
[1] Em português, disponibilizado pela RTP: A Vida é Suportável. Às vezes...)
[2] Nada acontece duas vezes (poema completo)
By Wera Grzes* (@alloewero), visual artist and poet. Collaborator at OKNA − Espaço cultural.
*(1996, in Poznań, PL). In her artistic practice, explores the alchemy of colors, lines and words. She is interested in the representation of women especially in visual arts and draws inspiration from the nature that fascinates her. With a sketchbook in her pocket, she celebrates life while traveling and hiking, exploring physical and metaphorical landscapes.
📆 SAVE THE DATE! O encontro sobre “Instante” (de Wislawa Szymborska) terá lugar no dia 25.03 (sábado) às 16H, na Livraria Gato Vadio - R. da Maternidade, nº 124. Confirme a presença!
#leiamulherespoetas
Em 21 de Março comemora-se o Dia Mundial da Poesia, e celebramos com a tag #leiamulherespoetas, com poemas/poesias e autoras recomendadas por participantes do clube:
“Quem quer casar com antígona” e “O efeito Sylvia Plath”, por Francisca Camelo Rosa, respetivamente em A importância do pequeno almoço e O quarto rosa;
“Só gosto das pessoas boas”, por Adília Lopes em Estar em casa;
“Two-lane blacktop”, por Matilde Campilho em Jóquei;
“Do abrupto”, por Clarissa Macedo em A casa mais alta do teu coração;
“Virginia”, por Mar Becker em A mulher submersa;
“Em busca do amor”, por Florbela Espanca em Livro de Mágoas;
“Autotomia”, por Wislawa Szymborska (trad. publicada na revista Inimigo Rumor (nº 10).
Ensinando poesia às máquinas
O primeiro poema que decorei foi Ou isto ou Aquilo, da poeta brasileira de família açoriana Cecília Meireles. Ele começa assim:
Me intrigava a impossibilidade do poema, ora de uma verdade absoluta, ora contestável: hoje chove e faz chuva; por debaixo da luva, um anel. E a confissão final, de algo intrinsecamente humano, que começava a descobrir — a angústia da escolha:
Anos depois, descobri que o filósofo do século XIX, Kierkegaard, escreveu sobre o mesmo tema, em seu livro Ou-Ou. Mas, o que precisava ser dito, Cecília havia contado em 8 versos. Me fascina essa capacidade de síntese do poema, que num espaço quase claustrofóbico toma o leitor de refém. Onde um eu que não é o poeta, nem o leitor – mas de também é ambos – nos prende a algo tão próximo à realidade, que de suas páginas parecem saltar mais verdades que filosofia. Poesia e filosofia, em verdade, muitas vezes se tocam e se confundem. Foram construídos sobre a mesma insustentabilidade da verdade humana, e pelo espanto de sua fragilidade. Aliás, na mitologia grega o poeta/historiador aedo, ao invocar as musas que lhe sussurram a história do mundo, é advertido: “sabemos dizer muitas verdades e muitas mentiras parecidas com verdades” – é uma pena que não estendemos essa mesma cortesia ao ensinarmos máquinas a falar.
Enquanto confrontamos os limites da criação com a chegada do Chat-GPT, contemplo o que a poesia poderia ensiná-lo. Penso na filósofa Amy Kind, em seu texto “Computing Machinery and Sexual Difference”, observando que toda a Inteligência Artificial, germinada por Alan Turing, se assenta sobre o conceito binário de gênero, (o próprio Alan Turing, era também atormentado pela constrição do gênero). E na sua proposta, ao fim do texto, para imaginar uma nova inteligência, menos arraigada em binarismos. Na minha imaginação, isso se daria assim: alimentaríamos nossas máquinas de poesias, textos que fluem pela página sem formas definidas, que suscitam inquietações onde a lírica de eus fluídos desconfiam das certezas do mundo.
Começaria, é claro, por Safo, a poeta de Lesbos que pariu uma sexualidade:
Pediria à Emily Dickinson lhe contar que o gênero, assim como o poema, é uma performance:

Pediria a licença poética de Adélia Prado, para desdobrar o binarismo das classificações das coisas inclassificáveis, como a identidade:
Questionaria junto com Roque/Raquel Salas Rivera os limites cortantes da linguagem:

E com Day Heisinger-Nixon lembraria que o mundo também é feito de materialidade:

Recorreria a Raquel Lima para lhe contar que toda língua é viva, e é reinventada:
Finalmente, com Ana Martins Marques, ensinaria que a linguagem é também feita de silêncios, assim como um poema é feito de pausas. E que, às vezes, é melhor riscar uma palavra.
Por Alice Rangel Teixeira
Dicas Culturais
24/03 – Agnes Nunes, a jovem baiana de 20 anos, considerada um dos maiores nomes da nova geração brasileira, se apresenta na Casa da Música.
25/03 – O duo ucraniano Kreida Group estreia sua performance sobre a vítimas civis da guerra da Ucrânia, gratuito no OKNA (até 01/04).
A partir de 30/03 – mostra da cineasta Argentina Lucrecia Martel, no Trindade.
Em abril – retrospectiva da cineasta Joanna Hogg, descrita como “o segredo mais bem guardado do cinema britânico”, no Batalha.
01 e 02/04 – A coreógrafa portuense, Margarida Constantino apresenta Sagração de quem Era, Teatro Rivoli (Dias de Dança 23).
18 e 19/04 – Lia Rodrigues, coreógrafa brasileira reflete sobre as entidades pertencem a modos de perceção do mundo afro-indígena no espetáculo Encantados, Teatro Rivoli (DDD 23).
20 e 21/04 – O espetáculo Pai para Jantar, um jogo entre Gaya, Gil e o público, que tenta esmiuçar a masculinidade de forma poética e bem-humorada. Gaya de Medeiros no Teatro Rivoli (DDD 23).
Em março, nos encontramos na Livraria Exclamação para conversar sobre “A redoma de vidro” (“A campânula de vidro” na edição portuguesa), de Sylvia Plath. Muitos participantes acharam a leitura “pesada”, também foram muitos os que ficaram curiosos para saber mais detalhes sobre a vida da escritora, depois de ler o livro. A metáfora da figueira chamou a atenção do grupo, talvez por sintetizar os conflitos que a narradora enfrenta ao longo do livro. Discutimos sobre as pressões sociais entre homens e mulheres, e as dificuldades da maternidade. Notamos relações entre o início do romance, quando a narradora fala sobre seu pânico em ser eletrocutada, como o casal Rosenberg, e o tratamento de eletroconvulsoterapia ao qual se submeteu posteriormente, bem como entre o tratamento com insulina e o fato de o pai da autora ter morrido com diabetes mellitus descompensado – segundo rumores, por ter recusado o tratamento.
A leitura despertou conexões com os livros Cartas portuguesas, de Gabriel Guilleragues; O homem que via tudo, de Deborah Levy; Departamento de especulações, de Jenny Offill; As alegrias da maternidade, de Buchi Emecheta; A mulher calada, de Janet Malcolm; bem como com a música “Valery”, o filme Garota interrompida e com a vida da escultora francesa Camille Claudel.